21 abril 2012

A Viagem - Virginia Woolf (1915)

"- Calculo que lhe doa a cabeça, não é? - interpelou-o ela servindo-lhe mais chá.
- Bom, de facto dói - admitiu Richard. - É humilhante verificar até que ponto neste mundo somos escravos do nosso corpo. Sabe, eu sou incapaz de trabalhar sem ter uma chaleira de água quente ao pé. O mais das vezes nem sequer bebo chá, mas preciso de sentir que, se me der vontade, posso beber." (p.80)


Estava dificil, mas foi. Este estilo do início do séc. XX, onde o enredo mais cedo ou mais tarde vai parar a salões de chá, com cavalheiros cheios de mordomias para com senhoras enfeitadas com chapéus de plumas, sem dúvida não é o meu predileto, mas a verdade é que o livro não é mau e queria mesmo ler.
Lembra Eça, com descrições impecáveis mas que nos fazem perder, sendo de leitura mais fácil do que eu estava à espera. Mesmo assim, surgem por vezes parágrafos que me deixam completamente à nora e fico com a sensação que não estou a pescar nada do que se está a passar. Quando o comecei a ler, tendo em conta o que já tinha ouvido falar de Woolf, disse para comigo - Alguém tem de morrer no fim. - Estava difícil, mas foi.

"(...) E no entanto, há ocasiões em que me pergunto se haverá no mundo alguma coisa que valha a pena fazer para além da escrita. Aquelas pessoas que ali estão - apontou para o hotel - desejam sempre alguma coisa que não podem ter. Já a escrita, nem que seja uma mera tentativa, proporciona-nos uma satisfação extraordinária. O que disse ainda agora é verdade: nós não desejamos ser as coisas; desejamos apenas poder vê-las." (p.242)

O mais positivo de tudo isto foi descobrir que há mulheres que escrevem à homem, por muito sexista que isto possa parecer, o que em certa parte é um alívio e deita por terra aquela minha teoria de se perceber perfeitamente o sexo do escritor sem olhar para a capa.

"Experimentou todo o género de imagens, retirando-as das vidas dos seus amigos, pois conhecia muitos casais; mas de todas as vezes os via enclausurados numa sala com a lareria acesa. Quando, por outro lado, se punha a pensar em solteiros, via-os activos num mundo sem limitações; acima de tudo, posicionados ao mesmo nível dos restantes, sem abrigo ou vantagens. Todos os seus amigos e amigas mais únicos e humanos eram solteiros e solteironas; aliás, foi com surpresa que constatou que as mulheres que mais admirava e que melhor conhecia não eram casadas. Dava a impressão de que o casamento era mais gravoso para elas do que para os homens." (p.270)

Repleto de palavras como "quão", excertos de poemas do século XIX, dos quais nunca ouvi falar, sinto que para recuperar desta "viagem" ao passado, longa e penosa, preciso de devorar o último bestseller
Ela escreve bem, mas simplesmente não é o meu género e ponto final, parágrafo.