25 dezembro 2011

O amante é sempre o último a saber - Rui Zink (2011)

Tudo o que temos de referências do Japão, está lá - Murakami, karaté, Lost in Translation, karaoke, a história do arigato, etc. - tudo o que conhecemos do Zink também está lá - interrupções na narrativa para comentário do escritor para o leitor, os trocadilhos, as referências subtis (ou não) - mas a verdade é que não gostei e foi uma verdadeira desilusão depois do muito amado Destino Turístico.

Acho que me fartei, enfim é a vida, mas com alguma tristeza. Até que a ideia central do livro tem uma ponta de interesse, mas não desenrolou... e agora olho ansiosamente para a estante, na procura da escolha perfeita para o próximo livro... e fico com a ligeira sensação que foi precisamente na página que a seguir transcrevo, que o Rui Zink perdeu uma fã:

"Tano ficara calado. Como se diz em gíria? Com um melão. Um ganda melão.
Um ganda enorme melão. Um ganda melão que poderia até ganhar um prémio num concurso agrícola para os maiores e mais belos e mais amarelos gandas melões." (p.55)

Quanto ao título, ultrapassa-me a compreensão de uma razão para a escolha do mesmo.
Boas festas!

02 agosto 2011

Um Dia - David Nicholls (2009)


Sim é uma novela, um easy reading e coisa e tal, mas também é divertido, inteligente, agradável. Gostei muito de o ler nestes dias horríveis de verão com o vento a chicotear as minhas pernas com os grãos de areia gigantestecos das praias da Arrábida. É um livro que gruda mas não há necessidade de andar alguém a desvendar mistérios da Opus Dei em perigo de vida. O sentido de humor agradou-me, as referências aos anos oitenta, os clichés, os diferentes modos de se viver a vida. Também teve a sua piada o livro ser sobre o dia 15 de Julho, dia de St. Swithin, que pelos vistos é um género de S. Pedro para os ingleses, e eu ter sentido urgência de o ler em redor desta data e por cá estar um mau tempo dos diabos.

Nos últimos quatro anos, tinha visto um sem-número de quarto assim, semeados por toda a cidade como locais de um crime, quartos onde nunca se estava a mais de dois metros de distância de um álbum de Nina Simone, e, apesar de raramente ter visto duas vezes o mesmo quarto, era-lhe tudo demasiado familiar.(...); havia fotos tiradas com flash de amigas da universidade e da família numa confusão entre os Chagalls e os Vermeers e os Kandinsky, os Che Guevaras e os Woody Allens e os Samuel Becketts. Aqui nada era neutro, tudo traduzia uma lealdade ou opinião. O quarto era um manifesto e, com um suspiro, Dexter reconheceu-a como uma dessas raparigas que usavam "burguês" como termo de insulto. (p. 17)


"O amor romântico é afinal isto, um programa de talentos? Come uma refeição, anda comigo para a cama, apaixona-te por mim e eu prometo-te anos e anos deste entretenimento de primeira?" (p. 156)


Muitas referências a Thomas Hardy e Charles Dickens, que pelos vistos está novamente na berra, tendo em conta o filme Here After que por acaso vi esta semana.
Estive vai não vai para transcrever a passagem de Tess of the d'Urbervilles, de Thomas Hardy, que aparece na página 401 e que dá o mote à história, mas provavelmente revelaria demasiado da essência do livro e atendendo a que alguns dos que passam por cá ainda o poderão ler, perderia parte da piada se assim o fizesse. Em vez disso deixo-vos com a BSO deste livro que ouvi pela primeira vez há 5 minutos atrás.


E já agora o trailer da versão cinematográfica que sai em setembro.

15 julho 2011

Hotel Du Lac - Anita Brookner (1984)

Com muita pena minha, na segunda vez que escrevo sobre uma escritorA vou ter que escrever pela segunda vez que não gostei do livro por aí além. Fez-me lembrar "O Véu Pintado" do Somerset, com o despertar de uma mulher que envereda por caminhos mais fúteis, apesar de Edith, personagem principal deste livro, não ser fútil de todo mas está a passar por uma fase que se deixa seduzir por futilidades. Não há pachorra. Na capa pode ler-se "Uma história de amor esmagadora." escrito por alguém do jornal "The Times" que pelos vistos gostou do livro e com isto concluo que qualquer paixoneta hoje em dia é um amor esmagador. Na minha singela opinião a construção das personagens é feita de forma interessante mas a história em si é fraquinha e para venceder do Booker Prize faz-me pensar que ninguém escreveu nada de jeito em 84.

"Tenho sido demasiado dura com as mulheres", pensou, "porque as compreendo melhor do que compreendo os homens. Conheço-lhes bem a vigilância, a paciência, a necessidade de se afirmarem bem-sucedidas." (p.94)

27 abril 2011

Travessuras da Menina Má - Mario Vargas Llosa (2006)

Quando leio pela primeira vez um livro de um determinado escritor sinto muitas vezes dificuldade em apanhar o ritmo certo, entranhar-me no mood da escrita, descobrir o tom apropriado. Sempre que pego num Nobel que não conheço, temo isso. Pois bem, medos à parte, a sensação que tive ao ler pela primeira vez Mario Vargas Llosa foi de uma familiaridade injustificável. Entrosei-me bem no género de escrita, pode-se dizer. Foi fácil de entrar no compasso, mas com isto não pretendo dizer que é uma escrita simples. De uma beleza suave e natural, com uma poesia e musicalidade que associo aos escritores sul-americanos.
É magistral como Llosa nos vai contando a História do Mundo, em particular de acontecimentos relevantes ocorridos ao longo do século XX em Lima, Paris, Londres e Madrid, sobrando ainda espaço para nos apresentar Tóquio no meio das aventuras e desventuras amorosas de Ricardo Somocursio e da sua Menina Má que no final acaba por ser nossa também.
Se no último post disse que não fazia questão de ler mais livros do Luís Miguel Rocha, quanto a Llosa estou com vontade de comprar tudo o que encontrar e devorá-los, tal como em tempos fiz com o Gabriel García Marquez. Sabendo que a 81º edição da Feira do Livro de Lisboa começa amanhã vai ser uma autêntica tentação e temo que traga para casa mais um ou dois livros desta colecção.

O que podemos ler sobre esta obra no site:

18 abril 2011

A Mentira Sagrada - Luís Miguel Rocha (2011)

Uma curiosidade primária fez-me comprar este livro e foi com algum desdém que o trouxe para casa - "Quem é este escritor português do qual nunca ouvi falar e é o primeiro no top do New York Times?". Muito desconfiada lá o comecei a ler, estando à espera de mais um discípulo do Dan Brown que ia bater na mesma tecla.
Quanto à técnica de escrita, não me enganei. Mantém os mesmos truques que Brown para nos agarrar que nem lapas ao enredo. Sem Jack Langdon, e com uma percentagem maior de contextualização histórica e menos floreados, gostei mas não faço questão de comprar mais um livro do moço já que pelos títulos as suas outras obras não fogem muito ao tema e o que é demais também enjoa. É inevitável que nos lembremos de Anjos e Demónios o que me fez lembrar que ainda não vi o filme (vivo no impasse entre o facto de não ter gostado da versão cinematográfica do Código e a opinião quase generalizada que o 2º é melhor e não se compara). Recordo também com algum pesar que ainda não li nenhum livro do José Rodrigues dos Santos, ao contrário de várias pessoas que me rodeiam, o que tem vindo a ser uma falha enorme no meu reportório.
Esta escolha foi óptima para ganhar um ritmo de leitura nestas "férias" que estão a saber que nem ginjas e tendo em conta que se despacha facilmente em 4 dias, é uma opção válida, e muito apropriada tendo em conta o tema (referiro-me à Páscoa e não à revolução de 2ª), para o fim-de-semana prolongado que se avizinha.

"A carruagem ia cheia de pessoas. Executivos a ultimar gráficos e tabelas para usar numa qualquer reunião importante, como as eram todas, muçulmanos que falavam ao telefone como se fossem os donos do mundo, turistas, casais, solitários à descoberta, mulheres bonitas, homens lindos, uns que liam livros eruditos de um qualquer filósofo francês com um título deslumbrante ou monótono, outros que liam o bestseller do momento que falava de mentiras sagradas e segredos do Vaticano, Sumos Pontífices e escolhidos de Deus, crimes por resolver e ditongos de histórias mal contadas. "(p. 175)

31 março 2011

5º Aniversário

28 livros em 5 anos... podia ter sido melhor, mas a verdade é que continuo a fazer um balanço positivo desta experiência, deste espaço onde me "obrigo" a reflectir, de uma forma mais séria, nos livros que acabei de ler e a praticar a escrita, essa eterna necessidade e obsessão. Era bom que hoje tivesse terminado algum livro mas tal não aconteceu, sendo assim, e por hoje ser dia de festa, deixo-vos com a última coisa de jeito que escrevi, já lá vão 4 anos :(

Colisão

No momento certo de uma distracção invulgar
foi fácil para a ironia nos encontrar
onde os contratempos dos nossos passatempos
finalmente se cruzaram inesperadamente.

Não te ouvi travar.
O ruído de um passado silencioso ensurdeceu-me.

Nos segundos pousava apenas uma mão queimada
que escondia a cobardia da mentira
que roubava coragem à verdade desse instante.
Nas horas sinto apenas o teu cheiro.

Não te vi fazer sinal de luzes.
O brilho de um presente renegado cegou-me.

Flutuo na leveza da realidade não vivida
bebo do vazio que sempre existiu
do desejo louco do equilíbrio torto
da eterna sedução da rotina sempre à mão.

Encontrámo-nos numa curva
quando ambos preferimos rectas.

E agora resta o teu abraço em forma de poema
quando já me afasto em pezinhos de lã
no momento certo de uma distracção vulgar
para a dor da tua ausência não acordar.

T - 24-03-2007

07 março 2011

Matteo perdeu o emprego - Gonçalo M. Tavares (2010)


Quem preconizou que eu ia gostar deste livro, acertou em cheio! Palavras para quê? O homem é um artista. A todos os que leram Jerusalém e gostaram, aconselho vivamente a pegarem neste livro e a devorarem-no numa bela tarde soalheira de Inverno.
Apetece-me ler GMT até enjoar. No 3º capítulo entendi a lógica dos nomes, preocupada em como os ia decorar, e fiquei contente como uma miúda, quando provavelmente a maioria descobriu isto mais cedo (bastaria olhar com atenção a contra-capa).
As fotos de manequins dos anos 80 são macabras e inicialmente deixaram-me bastante desconfortável, mas com o tempo fui-me habituando e passaram a ser um apoio curioso no reconhecimento dos personagens. É um livro sobre lixo, prostitutas, ordem vs caos, racionalidade vs loucura. Continua a ser evidente um certo gosto do GMT pela Matemática talvez para servir de porta-estandarte para a racionalidade. Achei piada à analogia geométrica feita pelo próprio autor, relativamente a esta obra, quando já eu tinha tentado fazer algo semelhante em relação ao Jerusalém, aqui neste blog, há uns tempinhos atrás. Espero viver tempo suficiente para o ver ganhar o Nobel.

"O controlo, sempre essa ansiedade." (p.189)

E para me pôr a explorar as funcionalidades de um site recomendado por uma amiga, aqui fica o meu esquema de popplets, relativo ao encadeamento das personagens deste livro... uma pequena brincadeira.

26 janeiro 2011

Ao cair da noite - Michael Cunningham (2010)

It's alive!! Depois de mais de 4 meses sem dar notícias cá reapareço para falar de mais um livrito que acabei de ler. What a shame!
Clicar no play antes de continuar a ler...
Julgo que Cunningham gosta sempre de estabelecer a banda sonora dos seus livros e por isso inclui na narrativa várias referências a músicas e bandas (Beatles, Sigur Rós, etc.). Foi assim que ouvi pela primeira vez os Styx e a música "Come Sail Away". Não é especialmente do meu agrado, mas soube bem ler um livro cuja acção se desenrola na ilha de Manhattan, relembrar as ruas, os museus, a correria, o Soho, Tribeca, Little Italy e Chinatown embalada por esta introdução melancólica em piano, transportando-me novamente para o saudoso e querido mês de Agosto. Mas pronto, parece que o meu fascínio pelo Cunningham foi-se de vez. Gostei do livro, mas não me deixou extasiada como os 3 primeiros pois é como diz o ditado "Não há sol que sempre dure nem mal que nunca acabe." (adoro provérbios :P). Mais um livro sobre a beleza, o amor e a finitude de tudo isso. Com 30 anos gosto de continuar a acreditar que há coisas que duram para sempre :) Podem suspirar "Ahh, a ignorância é uma benção", que eu não me importo. Continuo a preferir o "Sangue do meu Sangue".

Muitas referências a grandes nomes da literatura como Emma Bovary do Gustave Flaubert (recorrente), Anna Karenina do Tolstoi (previsível), Gatsby de Fitzgerald (será que alguma vez vou ler?) e Roaskolnikov do Dostoievski (relembrou-me as minhas sucessivas tentativas falhadas em terminar o "Crime e Castigo").

"Interessamo-nos por eles por não serem admiráveis, por serem como nós, e por grandes escritores lhes terem perdoado isso." (pág. 153)
"(...)Claro que todos eles, cada um deles, transportam dentro de si uma jóia de si próprios, não apenas as feridas e as esperanças, mas uma qualidade interior, algo a que Beethoven poderia ter chamado alma, aquela incandescência que transportamos em nós, o simples facto de estarmos vivos, toda ela enredada no sonho e na memória, mas diferente do sonho e da memória, diferente do momento (atravessar uma rua, sair de uma padaria); aquela infinidade menor, o universo privado em que sempre nos deslocámos e que atravessaremos sempre de skate ou à procura de moedas no fundo de uma carteira ou indo para casa com os miúdos aos gritos. Que disse Shakespeare? As nossas vidas mesquinhas estão envoltas em sono." (pág. 293)

Também existem várias referências a Thomas Mann e à sua "Montanha Mágica" talvez para enfatizar uma obsessão pela decadência, a Flannery O'Connor e a Kafka.
Alguém, algures, num dia destes, disse-me que quando lê um artigo do meu blog fica sem vontade de ler muitos dos livros (bem sei que já me disseram o contrário) e apesar de não ser possível agradar a Gregos e Troianos, vou passar a transcrever as sinopses das contracapas, apesar de encontrar muitas vezes incoerências com o verdadeiro conteúdo da obra (este não foge à regra) onde o toque Zaracotriniano não chega:

Contracapa:
Peter e Rebecca Harris, na casa dos quarenta e a viver em Manhattan, aproximam-se do apogeu das suas carreiras em arte: ele, negociante; ela, editora numa boa revista da especialidade. Com um moderno e espaçoso apartamento, uma filha adulta a estudar na universidade de Boston e amigos inteligentes e animados, levam um invejável estilo de vida urbano contemporâneo e parecem ter todas as razões para serem felizes. Mas é então que o irmão de Rebecca surge em cena. Extremamente parecido com ela, mas muito mais novo, Ethan (conhecido na família como Mizzy, ("O Erro") resolve visitá-los. Na sua presença, Peter começa a pôr em causa os artistas, o trabalho destes, a sua carreira - todo o mundo que construíra com tanto cuidado.

Tal como o aclamado romance As Horas, vencedor do Prémio Pulitzer, esta nova obra de Cunningham constitui uma visão dolorosa do modo como vivemos hoje em dia. Plena de peripécias inesperadas, faz-nos pensar (e sentir) com profundida nas utilizações e no significado da beleza e no papel do amor nas nossas vidas.

"No seu romance mais concentrado - um enaltecimento agridoce da criatividade humana - Cunnigham, mestre da escrita vencedor de um Prémio Pulitzer, combina erotismo e estética para orquestrar uma admirável crise da alma. Inspirando-se em Henry James e Thomas Mann, assim como nos artistas Agnes Martin e Damien Hirst, produz uma história belíssima, espirituosa, filosófica e urbana sobre os mistérios da beleza e do desejo, da arte e da ilusão, do tempo e do amor." Donna Seaman, Booklist (leitura recomendada).

Happy New Year! e prometo que esta fase de interjeições não lusas vai passar.

"Bater num caldeirão para fazer dançar um urso, quando desejaríamos enternecer as estrelas."