26 março 2007

No Reino da Dinamarca - Alexandre O´Neill

Numa tarde de estudo na Biblioteca D. Dinis, assisti inesperadamente a um evento intitulado Viver a Poesia, onde se pretendeu comemorar o Dia Mundial da Poesia juntamente com o Dia Internacional da Mulher. Vários poetas ligados ao concelho de Odivelas recitaram alguns dos seus poemas, a maioria, obviamente, dedicados ao sexo feminino, e no final, quem quis, pode provar que todo o português tem alma de poeta.
Ultimamente têm-me perguntado várias vezes porque concordo com a existência de um Dia Internacional da Mulher e eu lá puxo de armas e bagagem para argumentar a importância de dias de sensibilização como o 8 de Março. Deixo agora um desafio a todos os que me deram nas orelhas por eu orgulhosamente comemorar o dia da Mulher: Porque raio é que existe um Dia Mundial da Poesia? Porque descriminamos o verso face à prosa? De facto é a primeira vez que escrevo sobre poesia num post deste Blog... credo... é por causa de gente como eu que houve necessidade de se criar este dia! Bem, para me redimir, e porque por mim não há mal nenhum em existir o Dia Mundial da Poesia, apesar de ser chato ser no mesmo dia da árvore pois uma pessoa fica indecisa entre plantar um castanheiro ou chorar enquanto lê Florbela Espanca, deixo-vos a referência a um dos meus livros favoritos de poesia, com especial destaque para este velho poema, que à medida que o tempo passa, e é verdade que o tempo passa, gosto cada vez mais:


TOMA LÁ CINCO!

Encolhes os ombros, mas o tempo passa...
Ai, afinal, rapaz, o tempo passa!

Um dente que estava são e agora não,
Um cabelo que ainda ontem preto era,
Dentro do peito um outro, sempre mais velho coração,
E na cara uma ruga que não espera, que não espera...

No andar de cima, uma nova criança
Vai bater no teu crânio os pequeninos pés.
Mas deixa lá, rapaz, tem esperança:
Este ano talvez venhas a ser o que não és...

Talvez sejas de enredos fácil presa,
Eterno marido, amante de um só dia...
Com clorofila ficam os teus dentes que é uma beleza!
Mas não rias, rapaz, que o ano só agora principia...

Talvez lances de amor um foguetão sincero
Para algum coração a milhões de anos-dor
Ou desesperado te resolvas por um mero
Tiro na boca, mas de alcance maior...

Grande asneira, rapaz, grande asneira seria
Errar a vida e não errar a pontaria...

Talvez te deixes por uma vez de fitas,
De versos de mau hálito e mau sestro,
E acalmes nas feias o ardor pelas bonitas
(Como mulheres são mais fiéis, de resto...)

Alexandre O'Neill