22 maio 2007

Kafka à beira-mar - Haruki Murakami

O Independent apelidou-o de "Viciante", o Daily Mail de "Maravilhoso" e o The Times de "Hipnotizante" mas o melhor romance de 2005, intitulado pelo New York Times, teve sérias dificuldades em cativar-me. O primeiro capítulo fez-me torcer o nariz, não me agarrou, por assim dizer, o segundo começou a puxar por mim, mas durante as primeiras 300 páginas perguntei-me várias vezes se valeria a pena ler 50 capítulos do género. A sorte é que estava decidida em ir até ao limite da minha paciência, que felizmente é muita, e lá pelo meio fiquei agarradinha e deixei de fazer interrupções de 100 em 100 páginas para ler outro livro (comecei-o a ler antes do "Nem tudo começa com um beijo"). Curiosamente, as mesmas primeiras 300 páginas que não me fascinaram por aí além são as 300 páginas mais... mais "normais" (há que dar uso a esta palavra, diria o Branco) - à excepção de um velhote que fala com gatos e de uma quantidade de putos que desmaia numa montanha, nada de realmente estranho acontece. Quando a coisa começa a azedar e aparecem Johnnie Walkeres (Uísque) e Coronel Sanders (KFC) caídos sabe-se lá de onde, por estranho que pareça, e de facto é do mais estranho a que já assisti, foi quando o livro começou a entusiasmar-me e nunca mais o larguei.
Desta vez não vou passar nenhuma frase que tenha gostado (não é que não tenham existido), mas acontece que com esta história ficam mais imagens bem gravadas na memória (a biblioteca da Sra. Saeki, o frigorífico do JW, a cabana no meio da floresta, etc.), do que propriamente frases filosóficas interessantes, por isso vou-me restringir a copiar o que está escrito na contra-capa que só depois de ter terminado o livro fez completo sentido para mim:

"Sou livre. Fecho os olhos e penso com toda a minha força na minha nova condição, ainda que não esteja bem certo do que significa. Tudo o que sei é que estou completamente sozinho. Desterrado numa terra desconhecida, como um explorador solitário sem bússola nem mapa. Será isto a liberdade? Não sei, confesso, e às tantas desisto de pensar nisso."

... e porque o livro é sobre a liberdade, posso finalmente dizer, gostei. Além disso, sempre deu para conhecer mais um pouco da misteriosa cultura nipónica que, cada vez mais, tenho curiosidade em aprofundar.

PS: Não é que me desagrade totalmente esta nova editora (Casa das Letras) mas as gralhas ao longo do livro são mais que muitas. Não é que tenha encontrado erros ortográficos graves, mas conjunções quer repetidas quer fora do lugar, sílabas a menos ou a mais, etc. Na página 268 há uma frase que não percebi e pergunto-me se é ignorância minha ou mais alguma lacuna na impressão portuguesa.